Estás na mesma! O tempo não passou por ti, só os alunos ficaram mais velhos, só restias de saudade ao atravessar o velho túnel e sentir o cheiro dos lápis de cor...
Foto CAM
A ESCOLA DA RAINHA VICTÓRIA - I
Era do outro lado da rua e dava pelo pomposo nome de Externato D. Diniz, na altura conduzido por uma antiga professora e directora D. Bernardete, o terror dos rapazes devido aos seus métodos pouco ortodoxos de “endireitar” o que torto nascia! Não era o meu caso, mas os jovens que por vezes já caminhavam para os 18 anos e ainda não tinham concluído a 4ª.classe, eram colocados pelos pais como sendo a última esperança de tirar o diploma e inserirem-se no mercado de trabalho. Os pais abriam os cordões da bolsa, tentando numa réstia de esperança que os seus pupilos saíssem da escola com o famigerado papel de conclusão do ensino primário. Depois, tinham as 1ª.e 2ª. classes em que os filhos de pais com posses, desafiavam os alunos de escolas modestas com o seu orgulho idiota de “menino da mamã”. Não estava incluído nesse rol, mas por ironia do destino, acabei por sair no final do ano, após uma violenta discussão da “grossa” com a temível D. Bernardete. São os próprios filhos que o diziam:
- A nossa mãe é como a Rainha Victória!
E realmente a dita senhora era um autêntico terror em pessoa. Bastava sermos chamados à atenção ou ir aos seus aposentos, para que muitos dos meus colegas de carteira, eu incluído, sentirmos a “ termideira” que isso nos causava! A forma como nos falava, ou nos pregava os mais variados castigos, acompanhados de valentes reguadas.
Para os meninos “anjinhos”, premiavam-se! O Senhor Gomes, detentor da mercearia da rua, tinha sempre um stock de chocolates Regina (daqueles que imitavam os Toblerone) para serem adquiridos como troféus, aos que no quadro de honra, eram exemplo a seguir. Os maus, tinham como recompensa, ficarem de braços estendidos em cima da carteira, parecendo Cristos Redentores. Escusado será de dizer que ao fim de alguns minutos, não aguentávamos aquela posição e deixávamos os braços descair lentamente. Nessa altura, a professora Lourdes, encarregava-se de dar mais uns “bolos” nas mãos dos prevadicadores que ficavam com as mãos vermelhas e a “ferver”. Ainda por cima, os ditos Cristos ficavam junto às inúmeras janelas que deitavam para a calçada, sendo alvo de chacota dos transeuntes que os apelidavam de “burros”. Deitar um pingo de tinta no papel almaço de 25 linhas onde se fazia a prova escrita; páginas sujas dos livros ou folhas dos cadernos rasgadas, eram alvo da inspeção semanal com os respectivos castigos corporais. Coube-me algumas repreensões e castigos de “braços abertos” por situações de indisciplina. Por vezes, quando tinha de comer o almoço na sala, eram inspecionadas as cestas de vime, verificando se tínhamos comido a sopa o que no meu caso, em dia que constasse nabo na sua confeção, tinha “sobremesa” pela certa! Assim, tinha por hábito perguntar de que constava a sopa e se tivesse o referido legume, atirava fora antes de chegar à escola! Nada melhor prevenir do que remediar!